Hoje o primeiro bem-te-vi cantarolou às 05:14 da manhã, foi um cantar disperso e intenso que fez vibrar tonante aos pés dos meus ouvidos. Agudo e com dor. Tudo isso por que levei um chá de cadeira, aliás, um chá de cama de mim mesmo por não ter conseguido atingir a plenitude da paz interior: o sono sonhado da noite. Meu pai, em ritual diário, partiu ao banheiro no mesmo minuto, mas, diferentemente de mim, pouco depois voltou a sonhar.
Ray-ban e fusca: fui à praia tomar um sol e caminhar, talvez pudesse andando, colocar o pensamento no céu e descançar a mente. Foi divertido. A turma do passeio matinal na orla é um barato! Velhos aposentados loucos pra soltar a piada do dia, senhoras hipertensas com flocos de puddle de baixo do suvaco, atletas, garis, mulheres, carros, música, frutas e um bom banho de vento era o que desenhava o dia desde cedo no seio leste da Filpéia amada. Me senti mais solto, mais leve, como quem tomba e nunca cái.
No meio do passeio, encontrei um senhor gordo vendendo abacaxis e sem muito esperar solicitei-o que me colocasse às mãos o mais graudo. Sorri um sorriso fardo, ao me imaginar devorando-o no almoço. Em jejum, e sem poder comer o abacaxi por causa do almoço e do pH do meu estômago, caminhei bastante até a padaria mais próxima. Ao entrar no recinto, as curvas sinuosas da balconista me chamou atenção. Ligeiramente, pedi um sanduíche de frango e um suco acerola. Ela estava em treinamento, e eu treinei muito a minha paciência, que não esgotou por ver depois do mar, aquele violão.
Depois de satisfeito, caminhei de volta até o carro, estava mais triste, acho que foi a comida. Voltei pra casa pensando em ter comido cuzcuz com ovo, talvez pudesse ter caído melhor. E ainda cá, estou com o mesmo pensamento. Agora passou. Mesmo sem poder comer o que pensei que poderia comer me sinto feliz ao saber que o abacaxi tá guardado pro almoço!Espero que amanhã eu possa comer cuzcuz com ovo. Torço para que o bem-te-vi atrase o canto na minha janela, ou esteja eu numa janela bem maior.
Dessa vez tu ouviste. Que interessante! Ouviu o bem-te-vi que canta todos os dias na tua janela. E nem precisou ir a Ugo Guimarães.
ResponderExcluirUm óculos (ainda mais um Ray-ban) e um carro (ainda mais um fusca, ainda mais Magildo) é o estereótipo do sair sem destino. A grande maioria das vezes que faço isso, com um Ray-ban e meu carro vermelho, também acabo parando em frente ao mar. Acho que pelo romantismo que a maresia inspira, na solidão ou na solitude. Pela tranqüilidade e a impossibilidade de se incomodar. Sentimos-nos a vontade em frente ao mar, do mesmo jeito que um homem se sente a vontade em se perder (ou se achar) nos braços e nas curvas sinuosas de uma mulher. Contemplar o belo sempre nós acalma, voltar pra casa às vezes é inquietante; é voltar à rotina e aos problemas que nos fizeram procurar o mar e/ou as curvas sinuosas.
=*
Essa descrição do mar foi muito boa. Pude sentir a excitação das minhas glândulas com a primeira mordida do abacaxi, como também o calor do sol da manhã, a sensação que da quando estamos num ambiente diferente com uma certa agitação num horário meio incomum. Me senti altamente transportado com todas essas descrições.
ResponderExcluirTe vi em cada palavra e lembrei daquela manhã de domingo que te encontrei por lá.
ResponderExcluirJá tive vontade de comprar um abacaxi também e degustá-lo da mesma forma, mas os mesmos problemas que você citou...também acontecem comigo!!!
Que espera por devorar um abacaxi...
Bruno, você é demais!!!