sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O redondo gigante, a metade, e a Lira dos 21.



- Pensamento -
[Eu virava o mundo em tempos firmes no passado.
Acordava na velhice e dormia enquanto tomava leite.
Mas o redondo gigante me fez cair.
Uma voz madura às vezes me fala que se eu caí, é por que novamente posso ficar de pé.
Sussura baixinho que eu posso pegar o mundo em qualquer parada e em qualquer volta.
Ainda me diz que a passagem é de graça, e as voltas não se acabam como num carrocel
em fim de festa. Essa voz me constrói...]


A vida só toma sentido aos 21 anos de idade, quando a gente ver que ser adulto tem dois caminhos:
Ser infiel com seus sonhos. Ou fazer deles o seu próprio suor.
É como se você começasse a se ver de outra forma, com outros hábitos, mas velho e roliço.
Quando a gente é criança a gente prova o doce crescer das pessoas, imagina formas,
vê o mundo de baixo e se pergunta por que ele é tão grande e por que demoramos a crescer?
Quando crescemos, parece que ganhamos tudo, quando na verdade isso passa a ser uma prova
ilusória de que o nosso "tudo" é um começo de nada, um giro na ampulheta.
As vezes é bom sentir-se pela metade e muito melhor, quando se vive na metade.
Ainda assim, tornar-se completo é bem melhor. Mas quando ser completo?
O que sentimos quando nos tornamos um feto completo? Será que esse milésimo de segundo
(ou eternidade) nos fez sentir prazer, como sentimos num abraço, num beijo, num sorriso, num sexo.
Pensar é ludibriar o tempo da forma mais racional possível. Quando pensamos, o redondo gigante
perde seu referencial primeiro e pára a nossa volta.
Neste instante penso. Penso em fechar meu escrito e descançar minha coluna. Me perdi?
Ou me concluí?
Se vivemos na metade é por que antes de escolhermos ela nos partimos ao meio.
Espero que na metade, partido, eu consiga dividir meus sonhos para multiplicar minhas idéias.
E lembrar que o 21 é apenas mais um múltiplo de sete, até ser criança, ver tudo de baixo,
e poder crescer.

domingo, 12 de setembro de 2010

Fortuna


Eu ando pensando em sair
Sair do que ato ao meu lado
Brincar sem correntes, sem fardo
Até o meu céu se cair
Eu vejo o que é puro sentir
Eu sinto que é puro te ver
E não olhas quando vou partir
E não gostas se eu for sofrer
O muro me falha a cabeça
A luta não faz existir
E o carro na rua me chama
Mas antes de ir, vou cair
Em braços que não são os meus
Em cores que riscam o papel
Abelhas em favos de mel
Seguram os pés que esses sim, são meus
Vasto é o dia que olho
Na cor dos teus olhos também
Nos rastros que piso, eu molho
Pegadas na estrada do além
Eu sou seu amigo fiel
Cheio de coisas em mim
E quero que coisas assim
Se dobrem em um novo véu
Mostrando como é o espaço
Da curva do abismo do dia
E tudo se faz melodia
Num simples revés de compasso
É teu meu delírio compasso...
É teu meu delírio compasso...

Feito em 13 de Maio de 2008.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Quarto centenário e um quarto de pensão.

Cantem-se as revoluções por muitos anos
No sobrado guerrilheiro desta terra
Que por muitos viu pesares desenganos
Como filme de retrato, amor e guerra...

Salve o peito do sertão a quem ja herda
No seu nome um recado de profanos
E há quem que por engano já não nega
Lutem firmes por mais décadas e anos

Ao meu povo sirvam doces cristalinos
No agreste tempo - açúcares mais finos-
Que a memória não apaga as emoções

Vasta és em tamanha geografia
Que o mais nobre nome da filosofia
Não te deixa de tirar dos corações

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sono perdido, abacaxi e bem-te-vi.

Hoje o primeiro bem-te-vi cantarolou às 05:14 da manhã, foi um cantar disperso e intenso que fez vibrar tonante aos pés dos meus ouvidos. Agudo e com dor. Tudo isso por que levei um chá de cadeira, aliás, um chá de cama de mim mesmo por não ter conseguido atingir a plenitude da paz interior: o sono sonhado da noite. Meu pai, em ritual diário, partiu ao banheiro no mesmo minuto, mas, diferentemente de mim, pouco depois voltou a sonhar.
Ray-ban e fusca: fui à praia tomar um sol e caminhar, talvez pudesse andando, colocar o pensamento no céu e descançar a mente. Foi divertido. A turma do passeio matinal na orla é um barato! Velhos aposentados loucos pra soltar a piada do dia, senhoras hipertensas com flocos de puddle de baixo do suvaco, atletas, garis, mulheres, carros, música, frutas e um bom banho de vento era o que desenhava o dia desde cedo no seio leste da Filpéia amada. Me senti mais solto, mais leve, como quem tomba e nunca cái.
No meio do passeio, encontrei um senhor gordo vendendo abacaxis e sem muito esperar solicitei-o que me colocasse às mãos o mais graudo. Sorri um sorriso fardo, ao me imaginar devorando-o no almoço. Em jejum, e sem poder comer o abacaxi por causa do almoço e do pH do meu estômago, caminhei bastante até a padaria mais próxima. Ao entrar no recinto, as curvas sinuosas da balconista me chamou atenção. Ligeiramente, pedi um sanduíche de frango e um suco acerola. Ela estava em treinamento, e eu treinei muito a minha paciência, que não esgotou por ver depois do mar, aquele violão.
Depois de satisfeito, caminhei de volta até o carro, estava mais triste, acho que foi a comida. Voltei pra casa pensando em ter comido cuzcuz com ovo, talvez pudesse ter caído melhor. E ainda cá, estou com o mesmo pensamento. Agora passou. Mesmo sem poder comer o que pensei que poderia comer me sinto feliz ao saber que o abacaxi tá guardado pro almoço!Espero que amanhã eu possa comer cuzcuz com ovo. Torço para que o bem-te-vi atrase o canto na minha janela, ou esteja eu numa janela bem maior.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Amante de Santa

Nunca durmo muito
Por que muito durmo eu tanto
Quando perco a voz do canto
Quando a tinta resta à pena
E escrevo à pequena
Da mais doce virgem santa
Que nos sonhos entre tantas
Faz de mim coisa relenta

E me pisa com orgulho
Só pra ter a voz no rosto
E nos olhos o meu gosto
De me ver sacrificado
Santa cheia de pecado
Vê a prece do seu moço
Antes que lhe fique o osso
Sem deixar o seu recado

Vim rasgar-me nos teus braços
Mas a ti só tenho a SORTE
De talvez ganhar a morte
Nas loterias da vida
Como coisa prometida
Eu te coloquei na mente
Por que o peito já não sente
A dor que traz na batida

Uma santa concebida
Pra fazer em mim ruindade
Num tem gente que maltrate
Um cabloco adormecido
Como o seu amor vendido
Que lhe entrega crueldade
Como faz a humanidade
Quando diz amar alguém

Mas não imito ninguém
Entre tanta regalia
Eu prefiro o desgosto
De amar santa na dor
Do que ver a burguesia
Guardar todo seu pudor
Por não ter a poesia
De pecar e ser feliz

Pois não há gente que diga
Mesmo com benção de padre
Ou com reza de pretinha
Eu vos digo de verdade
Que um dia Deus acabe
Com a santa que foi minha
Nos meus sonhos eu a tinha
Toda cheia de maldade.