sábado, 27 de agosto de 2011

Nossa Senhora dos prematuros




Sonhei que sonhava que morria
No celeiro do sertão do cabrobó
Minha vida como um filme transcorria
Num passadotão distante e seco e só

Vi meu pai - tão doce a face que sorria -
No rebento que me fez deixar o pó
Minha mãe deitada linda - já dormia -
Quando ao ventre lhe cortaram o meu nó

Foi a morte que bateu em minha porta
A mais negra peste desta minha horta!
Que ao chão já não mais pode enraizar

Ouvi da mãe celeste o grito: - Filho volta!
Dou-te os anjos para te fazerem escolta
Tua vida há de apenas começar!

23 de Agosto de 2011

domingo, 21 de agosto de 2011

Transa Suburbana




O todo mostra-se parte do que vejo
Nos semáforos o cansaço de um palhaço imundo
E a mulata em toda graça no cortiço
Corre o olho para ver a confusão
De um casal que fofoca ali no chão
Sobre a culpa de quem é o dono disso

Um retrato no escritório me acompanha
Na esquina ouço a voz de uma campanha
Que se dobra numa garrafa de cerveja
Na iminência de molhar ela goteja
No bigode de um sargento sem emprego
Que reflete sobre a dor de um apego
De ficar sempre só naquela mesa

Lá no morro latem cães para um mendigo
Que num tempo de segundo chora louco
Por lembrar que se pudesse, por tão pouco
Ser maestro pra reger o que descrevo
Ser maior pra escrever o que não vejo
Ser a voz pra cantar o que não digo.

João Pessoa, 10 de Novembro de 2008.