domingo, 12 de setembro de 2010

Fortuna


Eu ando pensando em sair
Sair do que ato ao meu lado
Brincar sem correntes, sem fardo
Até o meu céu se cair
Eu vejo o que é puro sentir
Eu sinto que é puro te ver
E não olhas quando vou partir
E não gostas se eu for sofrer
O muro me falha a cabeça
A luta não faz existir
E o carro na rua me chama
Mas antes de ir, vou cair
Em braços que não são os meus
Em cores que riscam o papel
Abelhas em favos de mel
Seguram os pés que esses sim, são meus
Vasto é o dia que olho
Na cor dos teus olhos também
Nos rastros que piso, eu molho
Pegadas na estrada do além
Eu sou seu amigo fiel
Cheio de coisas em mim
E quero que coisas assim
Se dobrem em um novo véu
Mostrando como é o espaço
Da curva do abismo do dia
E tudo se faz melodia
Num simples revés de compasso
É teu meu delírio compasso...
É teu meu delírio compasso...

Feito em 13 de Maio de 2008.

Um comentário:

  1. Eu gosto bastante desse. Me lembra um pouco a questão do peso e da leveza de Kundera. Brincar sem correntes até o seu céu cair ou braços que seguram seus pés?
    "Mas, na verdade, será atroz o peso e bela a leveza? O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realidade vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próximo da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes. Então, o que escolher? O peso ou a leveza?”

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