domingo, 21 de agosto de 2011

Transa Suburbana




O todo mostra-se parte do que vejo
Nos semáforos o cansaço de um palhaço imundo
E a mulata em toda graça no cortiço
Corre o olho para ver a confusão
De um casal que fofoca ali no chão
Sobre a culpa de quem é o dono disso

Um retrato no escritório me acompanha
Na esquina ouço a voz de uma campanha
Que se dobra numa garrafa de cerveja
Na iminência de molhar ela goteja
No bigode de um sargento sem emprego
Que reflete sobre a dor de um apego
De ficar sempre só naquela mesa

Lá no morro latem cães para um mendigo
Que num tempo de segundo chora louco
Por lembrar que se pudesse, por tão pouco
Ser maestro pra reger o que descrevo
Ser maior pra escrever o que não vejo
Ser a voz pra cantar o que não digo.

João Pessoa, 10 de Novembro de 2008.

3 comentários:

  1. Taí um berro poético q traduz com aguda sensibilidade o frenesi urbano: semáforos, mulatas, fofocas de escritório, os cães e as garrafas de cerveja... fragmentos de uma lírica tecnológica para ser de-cantada ao som da guitarra elétrica com tesão e valentia!

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  2. ai, essa vida "conturbana"...
    adorei :)

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  3. Muito bom!
    Tá adicionado com louvor e quando puder me visite também.
    flw

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